FERIDAS NARCÍSICAS
Na travessia de uma análise, num primeiro tempo, o neurótico retifica sua posição, reconhecendo a sua castração, acedendo ao inconsciente, esse estrangeiro que o extima. Experimenta, depois de muito trabalho, a castração do Outro, que o Outro não dá, não porque não quer, mas efetivamente porque não tem, ao Outro falta, os ideais caem.
Numa boa hipótese, o supereu como última veste deste Outro pode reduzir sua ferocidade, dando lugar ao humor, para que o sujeito não se leve tão a sério. Osso duro de roer este: que a veste última do Outro caia para que o sujeito ceda do ideal narcísico que sempre supôs ser.
Na análise experimentam-se as três feridas narcísicas postuladas por Freud. A análise oferece em sua entrada a ferida de que não somos senhores na própria casa, o insabido que sabe, l'insu qui sait.
O (i)mundo nos adverte que não passamos de mera evolução da espécie, e do jeito que vai a história da civilização, é preciso duvidar até disso.
Mas duro mesmo para o neurótico é abrir mão da crença de que ele é o centro do universo.
Ana Paula Gomes
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